sábado, 20 de junho de 2009

There must be another way


Aproprio-me (se calhar indevidamente, bem sei, mas não quero saber disso) do título da canção que Israel apresentou no Festival Eurovisão da Canção de 2009, para o associar a um assunto que me interessa discutir (muito graças às conversas que tenho com o meu amigo Bruno Sousa, que acha que devo ser das poucas pessoas que ele reconhece adorarem falar dele): adelfas, neriuns, loendros, eloendros, cevadilhas, enfim, espirradeiras!

Exemplar de Nerium oleander L. (rosa) em Chaves - Foto do autor em 20.06.2009

Localização do exemplar de Nerium oleander L. (rosa) em Chaves no Google Earth
(
41°44'35.77"N e 7°28'43.72"W)

Bem sei que este talvez seja o ser vivo com a quantidade mais elevada de toxinas potencialmente mortais por ingestão (que o digam as tropas de Napoleão ou Alexandre "o Grande", ou mesmo os nossos "bravos do pelotão" na primeira Grande Guerra que usavam as suas infusões - tintura de cevadilha - para se despiolharem) mas, sendo esta uma espécie antiga, Mediterrânica e muito bem adaptada ao nosso clima (desde que tenha ao seu dispor pelo menos uma estação húmida ou possa molhar "o pézinho" num curso de água por muito decrépito que seja), com um dos maiores períodos de floração (Março a Outubro, nos melhores locais/épocas), fácil de propagar, perene, de folha coriáea e lanceolada (verde escura) e com uma paleta de cores florais muito interessante (branco, vermelho, rosas - escuro e claro - salmão, ...), com um potencial ornamental elevado e, por fim, uma das poucas plantas que reúne em seu entorno uma associação internacional (OIS - Oleander International Society), não terá ela também "direito à vida"? e a ser mais utilizada em projectos de arquitectura paisagista portugueses? pelo menos mais do que tenho visto por aí (e sei de alguns gabinetes onde esta espécie nunca é equacionada)?

Na minha opinião (que vale o que vale, mas é minha) se se tratar de um verdadeiro projecto paisagista, pressupõe-se que o mesmo foi elaborado por alguém que conhece bem as condicionantes da espécie e saberá definir com precisão paisagista os melhores locais/espaços onde o seu uso deve ser incentivado e, parecem-me serem bons exemplos disso o seu uso em taludes, jardins de quartéis, hospitais, e privados (em locais que minimizem o manuseamento), em maciços ou isoladamente, como barreires visuais, acústicas ou eólicas (ventos e poeiras), como boas "absorventes" de metais pesados (e já agora ficam também a saber que as adelfas são excelentes para "atrair" os afídeos e, pelo menos a minha amiga Magda usa-os com muito sucesso para "salvar" as outras plantas dos jardins que planeia e instala!)

O Nerium oleander L. é uma excelente espécie desde que, como qualquer outra, usada na medida certa e no local certo e quanto ao cabotinismo que vejo por aí, fico-me pelo título deste post.

Contra ventos e marés, gosto mesmo é de os apreciar nos locais que frequento e, felizmente,
este microfanerófito está mesmo por todo o lado (o comum dos mortais sabe bem o que aprecia, por muito que acreditemos que não...). Ainda bem!

Fiquem também com um excerto da escrita de Florbela Espanca e uns links interessantes.

“(…) «A ribeira corre lá abaixo beijando os pés às casinhas brancas, humildes e pobres, espreguiçando-se ao sol... e àquele sussurro de água, têm maior amplidão os nossos sonhos e mais altas aspirações as nossas almas. As lavadeiras batem as roupas, as flores de eloendro caem com mumúrios abafados na água muito azul, e não sei se serão mais cor-de-rosa as suas pétalas se certas mãos delicadas que, dentro da água, torcendo o linho branco, fazem também lembrar pétalas suavíssimas de alguma grande flor desfolhada.» (…)”

Florbela Espanca in Carta de Pavia - carta de 18 de Julho de 1916 in Cartas e Diário, org. Rui Guedes, Bertand Editora, 1995


Links:
Oleander International Society
Nerium oleander L. na Flora Digital de Portugal, no Herbário da UTAD

2 comentários:

dinis disse...

Magnifico trabalho, parabéns.
Quanto ás minhas fotos pode servir-se a vontade.

Reis disse...

Caro Dinis, já usei (como reparou certamente) no post sobre o livro do Dr Vasco Lavrador sobre o Dr. Mário Carneiro.

obrigado
Fernando Reis.

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